A VARIAÇÃO E A MUDANÇA LEXICAL DA LÍNGUA PORTUGUESA EM MOÇAMBIQUE
Resumo: A língua portuguesa no mundo vem ganhando seu espaço como resultado do desenvolvimento dos meios de comunicação de massa, da tecnologia e de políticas linguísticas. Moçambique é um país multilíngue onde as mais de vinte línguas bantu convivem com línguas europeias e asiáticas. Esta convivência linguística cria neologismos e interferências, fato que concorre para a variação e a mudança em todas áreas: fonético-fonológica, morfológica, sintática, lexical, semântica, pragmática, etc variação linguística que é originada pelas variáveis sociais. Dentro deste cenário propôs-se a presente pesquisa que aborda “A variação e mudança lexical da língua portuguesa em Moçambique”. A pesquisa tem como objetivos estudar e analisar a situação do português de Moçambique sobretudo a nível lexical e explicar os processos da integração na língua. O tema é relevante porque infelizmente, ainda se acha que em Moçambique se fala/escreve português europeu e que a norma-padrão deve ser forçosamente a europeia. A escola é intolerante com relação à variação e não dá nenhum valor ao ensino de português, fato que provoca o insucesso escolar. Para a pesquisa, compôs-se dois tipos de corpora: (a) o corpus oral composto por 36 entrevistas, sendo 16 na cidade de Maputo e 20 na cidade de Nampula, o correspondente a 191 minutos de gravação e (b) os corpora escritos compostos por dois jornais: “Notícias” (154 edições) e “Verdade” (24 edições) correspondente ao período 01/10/2011 a 31/03/2012. Após a transcrição das entrevistas e da organização dos dados dos corpora seguiu-se a fase da codificação para que os dados sejam lidos pelo programa estatístico GoldVarb 2001, programa muito usado em pesquisas da sociolinguística quantitativa. Os resultados fornecidos pelo programa foram analisados e discutidos tendo em conta as variáveis linguísticas: estrangeirismos e empréstimos. Da pesquisa se conclui que os estrangeirismos e os empréstimos no português de Moçambique provêm das línguas bantu, do inglês, do latim e do árabe. Cada província tem suas características linguísticas próprias, fruto da realidade sociolinguística e cultural. O português de Moçambique apresenta vários hibridismos e ex-nihilos fato que comprova que é uma variante que tende a se distanciar do português europeu. Os acrônimos e as siglas vindos do inglês se integram no português como palavras, resultado da frequência de uso. Não foi verificado nenhum caso de acrônimos nem siglas vindos das línguas bantu e do latim. Os falantes não escolarizados tendem a integrar estrangeirismos de luxo e necessários principalmente no norte de Moçambique, pois refletem a realidade cultural. Muitos estrangeirismos provêm da publicidade causados pelo surgimento de novas tecnologias. Muitos estrangeirismos que surgem no português de Moçambique são nomes e vêm completar lacunas ou mesmo para mostrar o prestígio da língua. Muitos estrangeirismos não estão dicionarizados porque Moçambique ainda depende de dicionários portugueses. Por isso que se propõe a criação de um dicionário do português de Moçambique, para que se possa incorporar neologismos (matriz interna ou externa), de modo que os alunos não fiquem “perdidos”. É urgente a criação de uma gramática que reflita a realidade da variante moçambicana para que a escola e a sociedade em geral encarem a variação sem preconceito.
Palavras – chave: Variação. Mudança. Português de Moçambique.